Desenvolvimento - Sistemas
TI - Tecnologia da Insatisfação
Tecnologia é geralmente vendida com base na sua habilidade intrínseca de permitir alcançar melhorias dramáticas em rapidez e produtividade...
por Ivan FonsecaAplicar tecnologias de alta performance em sistemas lentos, em processos mal concebidos ou não adaptativos não levará aos resultados desejados. A aplicação de mais e mais tecnologia por si só não é uma solução, mas a criação de novas fontes de problemas.
Alguns anos atrás, visitei uma importante organização brasileira que havia implantado um simples sistema de e-mail que, como sabemos, deveria tornar mais rápida a comunicação entre seus colaboradores internos e externos. Toda as manhãs, as secretárias deveriam abrir o programa de e-mail, imprimir as mensagens existentes na caixa de entrada virtual e colocá-las na caixa de entrada de correspondências real, disposta sobre a mesa do seu chefe. Os executivos até hoje despendem parte do seu dia assinalando o que deveria ser respondido, devolvendo as mensagens com as anotações às secretárias que as digitam e enviam as respostas aos interessados.
O que faz esta história ser notável é que a organização em questão, apesar de ser uma das mais informatizadas do país, demonstra uma total falta de aderência entre tecnologia, processos e retorno sobre os investimentos - ROI, causas principais do alto nível de insatisfação com os investimentos em TI.
Retorno pela oportunidade
Para o sucesso da implantação de qualquer tecnologia deve-se, claramente, identificar os processos que ela se propõe a melhorar ou substituir e analisar suas interações. Lembre-se que o resultado fornecido por um sistema é muito mais fruto das suas interações do que dos elementos que o compõe. É notável como os tomadores de decisão esquecem esta importante fonte primária de ganho e retorno quando se procura definir o retorno sobre um investimento em tecnologia.
A aplicação da tecnologia da informação é feita para tornar mais ágeis, flexíveis e precisos os processos existentes em uma organização. E conduzir um projeto de informatização sem empreender esforços de melhoria nos processos é reduzir dramaticamente as possibilidades de ganho que o investimento poderia resultar.
Conclusão! Se os ganhos possíveis de serem obtidos com a melhoria do processo são identificados no início dos trabalhos, numa fase de estudo de viabilidade do projeto, a adoção de uma nova tecnologia trará resultados muito mais atrativos após sua implantação.
Armadilhas contra o retorno
Qual a primeira coisa que vem à sua mente quando alguém menciona estudo de viabilidade? Para muitos gerentes, a tarefa de preparação de um estudo de viabilidade é focalizar os aspectos financeiros e contábeis do problema. Eles tiram o pó dos velhos livros textos de contabilidade e matemática financeira e revêem conceitos, tais como taxa interna de retorno, prazo de "payback", valor presente e fluxo de caixa. Estes princípios são certamente importantes para uma análise completa do ROI, mas há outros pontos, também relevantes, a serem adotados e, muitas vezes, esquecidos. São eles:
- Aderência às estratégias
- Combate às ineficiências
- Subordinação tecnológica
- Viabilidade econômica e financeira
Quando um investimento envolve a aquisição de tecnologia da informação há uma tendência em manter o foco da avaliação nos aspectos técnicos e facilidades que o produto oferece. O sistema de e-mail citado tinha a intenção de comunicar mensagens escritas quase que em tempo real, assumindo que a organização estivesse culturalmente preparada para o uso tão óbvio deste tipo de recurso, que os procedimentos de comunicação entre as pessoas da organização eram contínuos e irrestritos e, finalmente, que o treinamento para o seu uso era desnecessário, visto que apenas o meio e não a essência da comunicação iria ser substituída.
Efetivamente, as premissas que se assumiram verdadeiras não eram e os ganhos que a empresa vem obtendo são, possivelmente, negativos e não apenas menor do que deveriam ser. Vamos dar uma olhada nos quatro pontos acima mencionados.
Aderência às estratégias: É incrível como muitos projetos são alavancados por razões arbitrárias, tais como a simples implementação de mais tecnologia. A alta administração é constantemente bombardeada com propostas de retorno de investimento muito atrativas. Entretanto, é importante ter em mente que um modelo econômico e financeiro do ROI não responde a questão do por que fazer. Se você não sabe o motivo que justifica um projeto, o modelo usado para cálculo e apresentação do ROI não terá valor algum.
Combate às ineficiências: Após estar seguro de que a tecnologia adere às questões estratégicas, identificar as áreas funcionais que serão afetadas e avaliar o potencial de ganho através da melhoria das formas de trabalhar é o próximo passo. Projetos de aplicação de tecnologia de reconhecido sucesso iniciam investigando se o fazer melhor é condicionado à aplicação da tecnologia. O foco aqui é avaliar não apenas quais objetivos serão atingidos, mas também como eles serão atingidos e como eles se relacionam com as partes da organização que serão solicitadas a participar da sua execução.
Subordinação tecnológica: A Tecnologia deve ser estratégica e funcionalmente apropriada em relação à organização e a sua infraestrutura deve ser disponível e planejada. Cuidado! Não subordinar a tecnologia às suas estratégias poderá conduzi-lo a tomar decisões de investimentos futuros com base nos planos do seu fornecedor e não nos seus próprios planos.
Viabilidade econômica e financeira: Freqüentemente os gerentes me perguntam como construir um modelo de viabilidade econômica e financeira para o cálculo e apresentação do ROI. O que geralmente ouço é que o quanto se gasta é fácil identificar, mas a contra partida do ganho é uma coisa que beira a magia ou ao esoterismo. Em resposta, eu sempre chamo a atenção da importância de, inicialmente, ignorar aspectos da tecnologia e dar ênfase à aderência das estratégias, aos objetivos funcionais almejados e às oportunidades ou necessidades de se melhorar os processos. Em seguida, um modelo econômico e financeiro deve ser elaborado, apontando o que será assumido como redução de custo, agregação de valor e geração de receitas. Um modelo típico de ROI identifica como uma iniciativa trará melhorias ao fluxo de caixa em um determinado horizonte de planejamento. O modelo pode aplicar uma ou mais das seguintes técnicas: Valor Presente Liquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e Período de Payback (PPB).
Conclusão
Para aumentar o grau de satisfação com os investimentos em TI na sua organização, não esqueça de incluir na sua proxima proposta de invetimento um estudo de viabilidade que considere seguintes questões:
- A iniciativa é adequada às estratégias?
- As ineficiências dos processos foram identificadas?
- A iniciativa incorpora oportunidades de melhoria dos processos?
- A tecnologia pretendida é adequada à sua arquitetura?
- O cálculo do ROI considerou ganhos e custos de forma realista?
Há um consenso de que a tecnologia tem alto índice de obsolescência e isso é verdade quando sua aquisição é feita considerando-se apenas seus próprios atributos. O valor da tecnologia será preservado enquanto ela der suporte às missões de longo prazo da organização, o que significa dizer que ela não será obsoleta enquanto seu projeto estratégico estiver vigente.
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