Gerência - Qualidade e Testes

Teste de Comunicabilidade

Podemos dizer que, dentro de um ambiente de testes de usabilidade, se o usuário se perder dentro da interface e não souber que rumo tomar adiante, ou mesmo se ele não conseguir interpretar os itens de interface do aplicativo, estamos diante de uma quebra de comunicabilidade.

por Ezequiel C. Blasco



O computador não é, como muitos ainda imaginam, uma máquina inteligente. Ele não faz nada sozinho; é fundamental que nós digamos ao computador o que fazer, e quando fazer. Para isso, é necessário que nós estabeleçamos um diálogo com a máquina, a fim de “dar ordens” para ela. Em outras palavras, temos que estabelecer comunicação com o computador.

Por outro lado, para que um aplicativo possa executar as suas tarefas adequadamente, ele deve receber comandos claros e inequívocos, e dar ao usuário a correta idéia de suas funções, bem como das respostas às suas requisições. Deve ser estabelecido, em outras palavras, um diálogo entre esse aplicativo e o usuário, e esse diálogo é chamado de interface.

Estranho, não é? Não, meus amigos: é através da interface (mais precisamente, de seus elementos, como ícones e itens de menu) que são fornecidos os comandos de entrada para o aplicativo. Também é pela interface que o aplicativo apresenta o resultado das tarefas a ele confiadas, isto é, o resultado do seu processamento. E para que não haja erros, essa interface deve fornecer um diálogo sem ambigüidades, sem termos obscuros e funções quase inacessíveis.

Desta forma, quando existe um erro, um gap na interface, pode-se dizer que ali existe uma grande possibilidade de ocorrerem falhas de comunicabilidade na mesma. Uma falha de comunicabilidade, segundo ocorre quando o usuário precisa se desviar da interação rumo ao objetivo a ser alcançado para buscar o entendimento da própria interação.

Dentro deste quadro, podemos dizer que, dentro de um ambiente de testes de usabilidade, se o usuário se perder dentro da interface e não souber que rumo tomar adiante, ou mesmo se ele não conseguir interpretar os itens de interface do aplicativo, estamos diante de uma quebra de comunicabilidade. E, se há uma quebra de comunicabilidade, certamente existe algo a ser corrigido.

Para se captar as quebras (ou falhas) de comunicabilidade em um aplicativo, é fundamental que saibamos cada passo que o usuário executou no aplicativo. E isso, meus amigos, não dispensa uma boa gravação de interação. É fundamental que sejam gravadas as telas do aplicativo com a seqüência de ações do usuário, para posterior análise. Também é interessante (embora não fundamental) que sejam gravadas as informações de vídeo e áudio do usuário. A câmera de vídeo deve estar posicionada para captar as suas expressões faciais, e o áudio deve captar a sua conversação com o avaliador, bem como ocasionais manifestações “solo” do usuário.

Durante a execução das tarefas, um teste de comunicabilidade é absolutamente igual a um teste empírico tradicional. Os mesmos passos são seguidos: explicar o teste, mostrar os direitos do usuário e assinar o termo de compromisso, executar as tarefas, etc. A grande diferença está na análise dos dados, onde é feito um passo adicional – a etiquetagem das quebras de comunicabilidade, que é feita conforme as chamadas expressões de comunicabilidade.

As expressões de comunicabilidade são as seguintes:

    Quando acontece? Quando o usuário quer achar alguma funcionalidade, e não a consegue encontrar na interface em um primeiro momento.

    Quais os sintomas? Ficar “passeando” com o cursor do mouse sobre menus e botões da interface.

      É importante, caso esteja-se usando diferentes aplicativos para obeter áudio, vídeo e telas de interação, a sincronização dos dados, para que estes possam complementar-se e dar um quadro completo das razões da ocorrência de uma quebra de comunicabilidade. Também sincroniza-se o vídeo com as anotações derivadas da observação do usuário.

      Com essas informações sincronizadas, pode-se localizar onde estão as quebras de comunicabilidade e passar para uma das duas alternativas:

      • Aplicar-se diretamente uma solução, se esta for simples e/ou óbvia, ou;
      • Proceder a algum outro método de teste, para avaliar se aquele item da interface realmente apresenta algum problema.

      Bem, chegamos ao final de mais um artigo da série sobre Testes de Usabilidade. Qualquer dúvida, por favor, entrem em contato comigo através do e-mail ezequiel.blasco[at]testanywhere.com.br.

      Abraços, e até a próxima!

Ezequiel C. Blasco

Ezequiel C. Blasco - Mestre em Ciência da Computação pela PUCRS na área de Interação Humano-Computador (IHC), com ênfase em Avaliação de Usabilidade e Acessibilidade e Sistemas de Ajuda. Possui amplo conhecimento e experiência sobre Projeto de Interfaces e Avaliação de Usabilidade e Acessibilidade, tendo participado de projetos junto ao Laboratório de Usabilidade e Acessibilidade (LUA) - PUCRS. Consultor sênior de Usabilidade da TestAnywhere - Fábrica de Testes (www.testanywhere.com.br)