Desenvolvimento - ASP. NET
Migrando de ASMX para WCF
Junto com a primeira versão do Visual Studio .NET e do .NET Framework, temos a possibilidade de criarmos serviços Web, baseados em XML e utilizando a tecnologia ASP.NET Web Services (ASMX).
por Israel AéceJunto com a primeira versão do Visual Studio .NET e do .NET Framework, temos a possibilidade de criarmos serviços Web, baseados em XML e utilizando a tecnologia ASP.NET Web Services (ASMX). Isso ainda continua disponível nas templates de projeto da versão mais atual do Visual Studio .NET, mas, para a criação de novos projetos, ou melhor, de novos serviços, o ideal é recorrer ao WCF – Windows Communication Foundation.
De qualquer forma, os ASP.NET Web Services já existem há algum tempo e há muitas aplicações que ainda o utilizam, e este artigo ajudará a entender melhor as diferenças entre ASMX e o WCF, desde a sua estrutura de projeto até detalhes relacionados à execução do mesmo. Cada uma das seções a seguir irá analisar e discutir essas mudanças, falando também sobre alguns detalhes importantes que, se não se atentar, poderá ter um comportamento “estranho” durante a execução.
Templates e Estrutura de Projeto
Quando você opta por criar um projeto ASMX, então você deve recorrer à template ASP.NET Web Service Application. Ao criar esse tipo de projeto, você poderá adicionar dentro dele arquivos com extensão *.asmx. Esse tipo de arquivo representará um serviço. Dentro desta classe, teremos os métodos que queremos publicar. Vale lembrar que o modificador de acesso do método (public, private, etc.) não tem validade. O que determinará a visibilidade do método é se ele estiver ou não decorado com o atributo WebMethodAttribute.
Além disso, a classe que representa o serviço pode, opcionalmente, herdar da classe WebService. Essa classe fornece acesso direto aos objetos ASP.NET, como Application e Session. Assim como nas aplicações ASP.NET tradicionais (UI), o arquivo ASMX apenas possui uma diretiva chamada @WebService, que define alguns atributos utilizados pelo compilador do ASP.NET. As classes necessárias para trabalhar com o ASMX estão contidas no Assembly System.Web.Services.dll e debaixo do namespace System.Web.Service.
Já com o WCF, trabalhamos de forma bem parecida. Para trabalhar com ele, é necessário que você, ao criar um novo projeto, escolha a template WCF Service Application. Neste projeto, adicionaremos arquivos com extensão *.svc, que representará o serviço. Esse tipo de arquivo também possui uma diretiva própria, chamada de @ServiceHost, que também leva informações ao compilador do ASP.NET. As classes necessárias para trabalhar com o WCF estão contidas no Assembly System.ServiceModel.dll e debaixo do namespace System.ServiceModel.
Apesar de existirem templates distintas para cada uma das tecnologias, isso não quer dizer que você está obrigado a criar um projeto específico para os teus serviços. Caso você já possua uma aplicação ASP.NET criada, é perfeitamente possível adicionar arquivos com extensão *.asmx ou *.svc neste projeto. Uma aplicação ASP.NET (UI) consegue coexistir com qualquer uma dessas tecnologias.
Contratos
O ASMX irá se basear nos métodos decorados com o atributo WebMethodAttribute para gerar o documento WSDL. Você deverá controlar a visibilidade dos teus métodos adicionando um removendo este atributo. Qualquer tipo complexo referenciado nos métodos, será automaticamente inserido na descrição do serviço sem nenhuma configuração extra.
Já o WCF trabalha de forma bem diferente. Ele utiliza interfaces para determinar os contratos que o serviço possui. Essas interfaces são aquelas tradicionais, que já utilizamos no nosso dia-à-dia, mas decorada com um atributo chamado ServiceContractAttribute. Dentro das interfaces teremos os métodos, e controlamos se eles serão ou não expostos através do atributo OperationContractAttribute.
Em relação a tipos complexos vinculados ao contrato do serviço, a exposição deles será determinado pela versão do WCF que está utilizando. Se estiver utilizando a versão 3.0, então você precisará decorar essas classes com o atributo DataContractAttribute, e para cada propriedade que desejar expor, decorá-la com o atributo DataMemberAttribute (opt-in). Com o Service Pack 1 para o .NET Framework 3.5, esses parâmetros são opcionais (opt-out), tornando-os POCOs. Mas há um detalhe: quando você decorar a classe com o atributo DataContractAttribute, então você deverá explicitamente determinar quais propriedades deseja disponibilizar, utilizando o atributo DataMemberAttribute.
Há um outro detalhe importante durante a execução das operações. Quando você utiliza ASMX, ele concatena o namespace com o nome da mensagem para determinar o Action. O WCF concatena o namespace, o nome do serviço e o nome da operação. Para manter compatibilidade com possível clientes ASMX, você deve manter a mesma fórmula, e para isso, pode recoorer a propriedade Action do atributo OperationContextAttribute.
Serialização/Deserialização
A serialização e deserializaão estão condicionadas ao serializador que cada tecnologia utiliza. O ASMX utiliza o XmlSerializer (System.Xml.Serialization) para transformar os objetos em XML e vice-versa. O XmlSerializer serializa todos os membros públicos (propriedades e campos), sem a necessidade de definir algum atributo. Você ainda pode controlar como essa serialização será realizada, utilizando vários atributos que existem debaixo deste mesmo namespace. Para maiores detalhes sobre o funcionamento do XmlSerializer e dos atributos, consulte este artigo.
O WCF, por outro lado, utiliza o serializador DataContractSerializer por padrão. Este serializador trabalha de forma semelhante ao XmlSerializer, com poucos diferenças. Entre essas diferenças temos o entendimento por parte do DataContractSerializer do atributo SerializableAttribute, para manter a compatibilidade com objetos que foram criados para serem utilizados pelo .NET Remoting. Além disso, uma outra diferença é a capacidade que este serializador tem de persitir também membros definidos como private e protected. Este serializador ainda gera um XML mais simplificado, melhorando a interoperabilidade entre as plataformas. Se desejar utilizar o XmlSerializer, então basta decorar o seu contrato com o atributo XmlSerializerFormatAttribute. Somente utilize o XmlSerializer para cenários onde você precisa ter controle total sob como o XML é gerado.
Ainda temos um terceiro serializador que é o NetDataContractSerializer. A diferença em relação ao DataContractSerializer é que ele armazena no XML gerado, informações a respeito do tipo (CLR), como versão, assembly e full name. Este serializador é rico nas informações referente ao tipo, ele compartilha tipos, ao contrário do DataContractSerializer, que compartilha contratos. Este ainda possui baixa interoperabilidade, e pode ser utilizado em cenários onde se tem .NET Remoting.
Protocolo/Hosting
O ASMX pode somente ser hospedado no IIS, utilizando o protocolo HTTP/HTTPS. Já o WCF tem uma arquitetura muito mais flexível e é independente do protocolo, ou seja, ele pode rodar em HTTP, HTTPS, TCP, MSMQ, etc. Isso quer dizer que ao construir um serviço através do WCF, você não deve mencionar e/ou confiar em nenhum momento que o mesmo será exposto através de um determinado protocolo, já que você não conseguirá garantir isso.
O WCF também pode utilizar o IIS como host. Mas além dele, podemos fazer uso de outras aplicações para expor um serviço, como um Windows Service, ou ainda, uma simples aplicação Windows/Console. Para mais detalhes sobre cada um dos tipos de host, consulte este artigo.
Extensibilidade
O ASMX permite você interceptar as requisições através de SOAP Extensions. Com elas, podemos acoplar um código customizado no processamento da mensagem, efetuando logs, tratando a autenticação/autorização, etc. A estrutura para a criação de um extensão é simples: basta herdar da classe SoapExtension e implementar o método ProcessMessage. Como parâmetro, este método traz uma propriedade chamada Stage, que podemos identificar o estágio do processamento da mensagem. Ela nos fornece quatro opções auto-explicativas: BeforeSerialize, AfterSerialize, BeforeDeserialize e AfterDeserialize. Para utilizá-la, basta criar um atributo que herda de SoapExtensionAttribute, e sobrescrever o método ExtensionType.
O WCF traz inúmeros pontos de extensibilidade tanto do lado do serviço quanto do cliente. Através destes pontos, podemos interceptar e inspecionar os parâmetros que estão sendo enviados, a escolha da operação a ser disparada, a criação da instância da classe que representa o serviço, a serialização e deserialização da mensagem (é o que a classe SoapExtension faz), entre outros. O WCF fornece vários tipos (interfaces e classes) para você customizar o que for necessário. Para entender detalhadamente sobre todos as possibilidades que temos, consulte este artigo.
Segurança
O ASMX pode confiar somente na segurança baseada no transporte, ou seja, ele somente será seguro se você expor o serviço através de HTTPS. Você somente conseguirá abrir mão do HTTPS se utilizar a segurança baseada na mensagem, que está disponível no ASMX através do WSE – Web Services Enhancements. Muitas vezes se utiliza um SoapHeader com usuário e senha. Isso somente terá alguma segurança se utilizar HTTPS ou segurança em nível de mensagem. Do contrário, qualquer um que intercepte a requisição, conseguirá extrair o conteúdo da mensagem e seus respectivos headers.
Como já era de se esperar, o WCF fornece ambos níveis de segurança nativamente. São configurações que você realiza (de forma imperativa ou declarativa), e que o serviço utilizará para efetuar a autenticação e autorização do cliente. Uma das grandes dificuldades que o pessoal encontra ao utilizar o WCF, é que se configurar o WCF para autenticar o cliente através de usuário e senha, ainda assim será necessário utilizar um certificado para garantir a segurança.
Configuração
O ASMX possibilita que algumas configurações sejam feitas de forma declarativa, ou seja, aquela que é realizada através do arquivo Web.config. Entre essas configurações, temos a possibilidade de definir as SoapExtesions, página de ajuda/WSDL customizada, os protocolos que podem ser utilizados para acessar o serviço (HttpSoap, HttpPost e HttpGet) e mais algumas outras.
No WCF, a seção de configurações são extremamente ricas. Grande parte de tudo que utilizamos no WCF pode ser configurado a partir do arquivo de configuração. Segurança, transações, know types, behaviors, bindings, endpoints, contratos, etc. O arquivo de configuração é tão rico que as vezes chega a ser complexo. A Microsoft melhorou isso no WCF 4.0, como já foi discutido neste artigo. Aqui não há muito o que se comparar, já que grande parte do que temos no WCF não existe nativamente no ASMX. Devido a isso, muitos desenvolvedores experientes na construção de serviço utilizando o ASMX, sofrem bastante quando passam a usar o WCF.
Compatibilidade com o ASP.NET
Dentro de métodos criados no ASMX, você pode tranquilamente acessar os objetos nativos do ASP.NET, como caching, Session, Application, Cookies, etc. Você pode utilizar esses repositórios para manter as informações de acordo com o contexto. Todas essas informações são disponibilizadas através da propriedade estática Current da classe HttpContext.
A configuração padrão do WCF não permite você acessar essas informações. Na verdade, isso não é uma boa prática. Se fizer uso dessas classes dentro do seu serviço, ele ficará dependente do protocolo HTTP. Se quiser expor o mesmo serviço através de TCP ou MSMQ, essas informações não terão nenhuma utilidade. De qualquer forma, se quiser manter a compatibilidade e continuar utilizando os mesmos recursos, então você deverá explicitamente habilitá-los. Para fazer isso, você deve decorar a classe que representa o serviço com o atributo AspNetCompatibilityRequirementsAttribute, definindo a propriedade RequirementsMode como Required.
Dependendo do tempo de vida e do escopo que deseja manter alguma informação, você pode recorrer a técnicas nativas do WCF, como o compartilhamento de estado, utilizando a interface IExtension<T>, como é abordado no final deste artigo.
Interoperabilidade
Há várias especificações que foram definidas por grandes players do mercado, que regem a estrutura do envelope SOAP para suportar alguma funcionalidade. Essas especificações são conhecidas como WS-* e estão divididas em várias categorias, sendo Messaging, Security, Reliable Messaging, Transaction, Metadata, entre outros. Cada uma das empresas utiliza essas especificações e as implementam em sua plataforma. Como todos seguem (teoricamente) as mesmas especificações, haverá interoperabilidade entre serviços construídos em plataformas diferentes.
O ASMX não possui nativamente suporte a elas. A Microsoft criou um Add-on para o Visual Studio .NET, chamado WSE – Web Services Enhancements, que atualmente está na versão 3.0. Ao instalá-lo, além de várias ferramentas que ele adiciona na IDE para auxiliar na configuração destes protocolos, adiciona o runtime necessário para fazer tudo isso funcionar. É importante dizer que o WCF consegue também interoperar com o WSE, já que ambos implementam os mesmos padrões.
Como esses padrões já foram implementados nativamente no WCF, não exige nenhum complemento. Todas as especificações são configuradas através do binding, podendo inclusive efetuar essa configuração através do arquivo Web.config. Antes de habilitar ou desabilitar essas funcionalidades, é importante que se tenha o devido conhecimento, para evitar qualquer problema ao até mesmo criar alguma vulnerabilidade.
Ainda falando sobre interoperabilidade, a Microsoft se preocupou em manter os investimentos feitos com o ASMX. O WCF consegue facilmente conversar com serviços construídos em ASMX em ambos os lados, ou seja, você pode construir um serviço ASMX e consumí-lo com a infraestrutura do WCF, bem como pode construir um serviço escrito em WCF e consumí-lo com a infraestrutura do ASMX. Na verdade, quando você for criar um novo serviço, opte sempre pelo WCF. Você somente teria essa interoperabilidade entre essas tecnologias, quando desejar substituir o ASMX pelo WCF em serviços que já estão rodando, e com vários clientes dependendo do mesmo.
Internals
As requisições para arquivos *.asmx são direcionadas pelo IIS para o ISAPI do ASP.NET (aspnet_isapi.dll). Em um determinado momento, o ISAPI direciona a requisição do pedido para o código gerenciado. As requisições para estes arquivos tem como alvo um dos handlers WebServiceHandlerFactory ou ScriptHandlerFactory. A primeira delas, se baseando no arquivo requisitado, construirá dinamicamente a classe que representa o serviço. Já a classe ScriptHandlerFactory construirá o handler baseando-se em uma requisição REST/AJAX.
O WCF também utiliza o pipeline do ASP.NET, e quando a requisição é entregue pelo IIS para o ASP.NET, ele verifica se trata-se de uma requisição para um arquivo *.svc. Caso positivo, o handler responsável pelo processamento do pedido é o HttpHandler (System.ServiceModel.Activation). Internamente o WCF faz o processamento síncrono da operação, não liberando a thread do ASP.NET, que ficará bloqueada até a finalização da operação. Para entender melhor esse problema e também como melhorá-lo, você pode recorrer a este artigo.
Deployment
Assim como qualquer aplicativo .NET, basta mover os serviços para o IIS remoto e tudo já funciona. Obviamente que você deverá se certificar que você tenha a mesma versão do .NET Framework (isso inclui o Service Packs) instalada no servidor. É importante dizer que ambas tecnologias necessitam de um diretório virtual devidamente criado no IIS, com as permissões também configuradas. Apenas atente-se ao WCF, que tem um pequeno bug quando você opta pela pré-compilação do projeto.
Cliente
Dentro do Visual Studio .NET você tem duas opções para referenciar um serviço: “Add Web Reference” e “Add Service Reference”. Podemos dizer que com a primeira opção, você deve utilizar quando for referenciar um serviço ASMX em uma aplicação; já com a segunda opção, você deve utilizar quando você for referenciar um serviço WCF em uma aplicação. Quando fizer isso, a IDE criará o proxy utilizando a API da tecnologia correspondente.
Isso não quer dizer que você precisa seguir sempre esta regra. Você pode referenciar um serviço ASMX na opção “Add Service Reference”. Ao fazer isso, toda a estrutura do lado do cliente, será criada utilizando a API do WCF, ou seja, o proxy será baseado na classe ClientBase<TChannel> ao invés da SoapHttpClientProtocol, e toda a configuração do endpoint do serviço será colocada no arquivo Web.config. O WCF criou um binding chamado BasicHttpBinding para a interoperabilidade com o ASMX, que você pode utilizar para interagir com o serviço criado através do ASMX, sem maiores problemas.
Conclusão: Como vimos neste artigo, há vários detalhes que precisamos nos atentar na construção ou migração de um serviço escrito em ASMX para WCF. Para efeito de compatibilidade, algumas funcionalidades continuam trabalhando da mesma forma, enquanto para outras há um jeito diferente de fazer, e que na maioria das vezes, acaba sendo mais flexível. O artigo também não aborda detalhadamente cada uma das funcionalidades do WCF. Se desejar construir um serviço utilizando WCF, ou se quiser entender mais detalhadamente cada uma das funcionalidades abordadas aqui, pode consultar este artigo, que no final dele, há uma relação com os principais artigos que falam sobre essas funcionalidades.
De qualquer forma, os ASP.NET Web Services já existem há algum tempo e há muitas aplicações que ainda o utilizam, e este artigo ajudará a entender melhor as diferenças entre ASMX e o WCF, desde a sua estrutura de projeto até detalhes relacionados à execução do mesmo. Cada uma das seções a seguir irá analisar e discutir essas mudanças, falando também sobre alguns detalhes importantes que, se não se atentar, poderá ter um comportamento “estranho” durante a execução.
Templates e Estrutura de Projeto
Quando você opta por criar um projeto ASMX, então você deve recorrer à template ASP.NET Web Service Application. Ao criar esse tipo de projeto, você poderá adicionar dentro dele arquivos com extensão *.asmx. Esse tipo de arquivo representará um serviço. Dentro desta classe, teremos os métodos que queremos publicar. Vale lembrar que o modificador de acesso do método (public, private, etc.) não tem validade. O que determinará a visibilidade do método é se ele estiver ou não decorado com o atributo WebMethodAttribute.
Além disso, a classe que representa o serviço pode, opcionalmente, herdar da classe WebService. Essa classe fornece acesso direto aos objetos ASP.NET, como Application e Session. Assim como nas aplicações ASP.NET tradicionais (UI), o arquivo ASMX apenas possui uma diretiva chamada @WebService, que define alguns atributos utilizados pelo compilador do ASP.NET. As classes necessárias para trabalhar com o ASMX estão contidas no Assembly System.Web.Services.dll e debaixo do namespace System.Web.Service.
Já com o WCF, trabalhamos de forma bem parecida. Para trabalhar com ele, é necessário que você, ao criar um novo projeto, escolha a template WCF Service Application. Neste projeto, adicionaremos arquivos com extensão *.svc, que representará o serviço. Esse tipo de arquivo também possui uma diretiva própria, chamada de @ServiceHost, que também leva informações ao compilador do ASP.NET. As classes necessárias para trabalhar com o WCF estão contidas no Assembly System.ServiceModel.dll e debaixo do namespace System.ServiceModel.
Apesar de existirem templates distintas para cada uma das tecnologias, isso não quer dizer que você está obrigado a criar um projeto específico para os teus serviços. Caso você já possua uma aplicação ASP.NET criada, é perfeitamente possível adicionar arquivos com extensão *.asmx ou *.svc neste projeto. Uma aplicação ASP.NET (UI) consegue coexistir com qualquer uma dessas tecnologias.
Contratos
O ASMX irá se basear nos métodos decorados com o atributo WebMethodAttribute para gerar o documento WSDL. Você deverá controlar a visibilidade dos teus métodos adicionando um removendo este atributo. Qualquer tipo complexo referenciado nos métodos, será automaticamente inserido na descrição do serviço sem nenhuma configuração extra.
Já o WCF trabalha de forma bem diferente. Ele utiliza interfaces para determinar os contratos que o serviço possui. Essas interfaces são aquelas tradicionais, que já utilizamos no nosso dia-à-dia, mas decorada com um atributo chamado ServiceContractAttribute. Dentro das interfaces teremos os métodos, e controlamos se eles serão ou não expostos através do atributo OperationContractAttribute.
Em relação a tipos complexos vinculados ao contrato do serviço, a exposição deles será determinado pela versão do WCF que está utilizando. Se estiver utilizando a versão 3.0, então você precisará decorar essas classes com o atributo DataContractAttribute, e para cada propriedade que desejar expor, decorá-la com o atributo DataMemberAttribute (opt-in). Com o Service Pack 1 para o .NET Framework 3.5, esses parâmetros são opcionais (opt-out), tornando-os POCOs. Mas há um detalhe: quando você decorar a classe com o atributo DataContractAttribute, então você deverá explicitamente determinar quais propriedades deseja disponibilizar, utilizando o atributo DataMemberAttribute.
Há um outro detalhe importante durante a execução das operações. Quando você utiliza ASMX, ele concatena o namespace com o nome da mensagem para determinar o Action. O WCF concatena o namespace, o nome do serviço e o nome da operação. Para manter compatibilidade com possível clientes ASMX, você deve manter a mesma fórmula, e para isso, pode recoorer a propriedade Action do atributo OperationContextAttribute.
Serialização/Deserialização
A serialização e deserializaão estão condicionadas ao serializador que cada tecnologia utiliza. O ASMX utiliza o XmlSerializer (System.Xml.Serialization) para transformar os objetos em XML e vice-versa. O XmlSerializer serializa todos os membros públicos (propriedades e campos), sem a necessidade de definir algum atributo. Você ainda pode controlar como essa serialização será realizada, utilizando vários atributos que existem debaixo deste mesmo namespace. Para maiores detalhes sobre o funcionamento do XmlSerializer e dos atributos, consulte este artigo.
O WCF, por outro lado, utiliza o serializador DataContractSerializer por padrão. Este serializador trabalha de forma semelhante ao XmlSerializer, com poucos diferenças. Entre essas diferenças temos o entendimento por parte do DataContractSerializer do atributo SerializableAttribute, para manter a compatibilidade com objetos que foram criados para serem utilizados pelo .NET Remoting. Além disso, uma outra diferença é a capacidade que este serializador tem de persitir também membros definidos como private e protected. Este serializador ainda gera um XML mais simplificado, melhorando a interoperabilidade entre as plataformas. Se desejar utilizar o XmlSerializer, então basta decorar o seu contrato com o atributo XmlSerializerFormatAttribute. Somente utilize o XmlSerializer para cenários onde você precisa ter controle total sob como o XML é gerado.
Ainda temos um terceiro serializador que é o NetDataContractSerializer. A diferença em relação ao DataContractSerializer é que ele armazena no XML gerado, informações a respeito do tipo (CLR), como versão, assembly e full name. Este serializador é rico nas informações referente ao tipo, ele compartilha tipos, ao contrário do DataContractSerializer, que compartilha contratos. Este ainda possui baixa interoperabilidade, e pode ser utilizado em cenários onde se tem .NET Remoting.
Protocolo/Hosting
O ASMX pode somente ser hospedado no IIS, utilizando o protocolo HTTP/HTTPS. Já o WCF tem uma arquitetura muito mais flexível e é independente do protocolo, ou seja, ele pode rodar em HTTP, HTTPS, TCP, MSMQ, etc. Isso quer dizer que ao construir um serviço através do WCF, você não deve mencionar e/ou confiar em nenhum momento que o mesmo será exposto através de um determinado protocolo, já que você não conseguirá garantir isso.
O WCF também pode utilizar o IIS como host. Mas além dele, podemos fazer uso de outras aplicações para expor um serviço, como um Windows Service, ou ainda, uma simples aplicação Windows/Console. Para mais detalhes sobre cada um dos tipos de host, consulte este artigo.
Extensibilidade
O ASMX permite você interceptar as requisições através de SOAP Extensions. Com elas, podemos acoplar um código customizado no processamento da mensagem, efetuando logs, tratando a autenticação/autorização, etc. A estrutura para a criação de um extensão é simples: basta herdar da classe SoapExtension e implementar o método ProcessMessage. Como parâmetro, este método traz uma propriedade chamada Stage, que podemos identificar o estágio do processamento da mensagem. Ela nos fornece quatro opções auto-explicativas: BeforeSerialize, AfterSerialize, BeforeDeserialize e AfterDeserialize. Para utilizá-la, basta criar um atributo que herda de SoapExtensionAttribute, e sobrescrever o método ExtensionType.
O WCF traz inúmeros pontos de extensibilidade tanto do lado do serviço quanto do cliente. Através destes pontos, podemos interceptar e inspecionar os parâmetros que estão sendo enviados, a escolha da operação a ser disparada, a criação da instância da classe que representa o serviço, a serialização e deserialização da mensagem (é o que a classe SoapExtension faz), entre outros. O WCF fornece vários tipos (interfaces e classes) para você customizar o que for necessário. Para entender detalhadamente sobre todos as possibilidades que temos, consulte este artigo.
Segurança
O ASMX pode confiar somente na segurança baseada no transporte, ou seja, ele somente será seguro se você expor o serviço através de HTTPS. Você somente conseguirá abrir mão do HTTPS se utilizar a segurança baseada na mensagem, que está disponível no ASMX através do WSE – Web Services Enhancements. Muitas vezes se utiliza um SoapHeader com usuário e senha. Isso somente terá alguma segurança se utilizar HTTPS ou segurança em nível de mensagem. Do contrário, qualquer um que intercepte a requisição, conseguirá extrair o conteúdo da mensagem e seus respectivos headers.
Como já era de se esperar, o WCF fornece ambos níveis de segurança nativamente. São configurações que você realiza (de forma imperativa ou declarativa), e que o serviço utilizará para efetuar a autenticação e autorização do cliente. Uma das grandes dificuldades que o pessoal encontra ao utilizar o WCF, é que se configurar o WCF para autenticar o cliente através de usuário e senha, ainda assim será necessário utilizar um certificado para garantir a segurança.
Configuração
O ASMX possibilita que algumas configurações sejam feitas de forma declarativa, ou seja, aquela que é realizada através do arquivo Web.config. Entre essas configurações, temos a possibilidade de definir as SoapExtesions, página de ajuda/WSDL customizada, os protocolos que podem ser utilizados para acessar o serviço (HttpSoap, HttpPost e HttpGet) e mais algumas outras.
No WCF, a seção de configurações são extremamente ricas. Grande parte de tudo que utilizamos no WCF pode ser configurado a partir do arquivo de configuração. Segurança, transações, know types, behaviors, bindings, endpoints, contratos, etc. O arquivo de configuração é tão rico que as vezes chega a ser complexo. A Microsoft melhorou isso no WCF 4.0, como já foi discutido neste artigo. Aqui não há muito o que se comparar, já que grande parte do que temos no WCF não existe nativamente no ASMX. Devido a isso, muitos desenvolvedores experientes na construção de serviço utilizando o ASMX, sofrem bastante quando passam a usar o WCF.
Compatibilidade com o ASP.NET
Dentro de métodos criados no ASMX, você pode tranquilamente acessar os objetos nativos do ASP.NET, como caching, Session, Application, Cookies, etc. Você pode utilizar esses repositórios para manter as informações de acordo com o contexto. Todas essas informações são disponibilizadas através da propriedade estática Current da classe HttpContext.
A configuração padrão do WCF não permite você acessar essas informações. Na verdade, isso não é uma boa prática. Se fizer uso dessas classes dentro do seu serviço, ele ficará dependente do protocolo HTTP. Se quiser expor o mesmo serviço através de TCP ou MSMQ, essas informações não terão nenhuma utilidade. De qualquer forma, se quiser manter a compatibilidade e continuar utilizando os mesmos recursos, então você deverá explicitamente habilitá-los. Para fazer isso, você deve decorar a classe que representa o serviço com o atributo AspNetCompatibilityRequirementsAttribute, definindo a propriedade RequirementsMode como Required.
Dependendo do tempo de vida e do escopo que deseja manter alguma informação, você pode recorrer a técnicas nativas do WCF, como o compartilhamento de estado, utilizando a interface IExtension<T>, como é abordado no final deste artigo.
Interoperabilidade
Há várias especificações que foram definidas por grandes players do mercado, que regem a estrutura do envelope SOAP para suportar alguma funcionalidade. Essas especificações são conhecidas como WS-* e estão divididas em várias categorias, sendo Messaging, Security, Reliable Messaging, Transaction, Metadata, entre outros. Cada uma das empresas utiliza essas especificações e as implementam em sua plataforma. Como todos seguem (teoricamente) as mesmas especificações, haverá interoperabilidade entre serviços construídos em plataformas diferentes.
O ASMX não possui nativamente suporte a elas. A Microsoft criou um Add-on para o Visual Studio .NET, chamado WSE – Web Services Enhancements, que atualmente está na versão 3.0. Ao instalá-lo, além de várias ferramentas que ele adiciona na IDE para auxiliar na configuração destes protocolos, adiciona o runtime necessário para fazer tudo isso funcionar. É importante dizer que o WCF consegue também interoperar com o WSE, já que ambos implementam os mesmos padrões.
Como esses padrões já foram implementados nativamente no WCF, não exige nenhum complemento. Todas as especificações são configuradas através do binding, podendo inclusive efetuar essa configuração através do arquivo Web.config. Antes de habilitar ou desabilitar essas funcionalidades, é importante que se tenha o devido conhecimento, para evitar qualquer problema ao até mesmo criar alguma vulnerabilidade.
Ainda falando sobre interoperabilidade, a Microsoft se preocupou em manter os investimentos feitos com o ASMX. O WCF consegue facilmente conversar com serviços construídos em ASMX em ambos os lados, ou seja, você pode construir um serviço ASMX e consumí-lo com a infraestrutura do WCF, bem como pode construir um serviço escrito em WCF e consumí-lo com a infraestrutura do ASMX. Na verdade, quando você for criar um novo serviço, opte sempre pelo WCF. Você somente teria essa interoperabilidade entre essas tecnologias, quando desejar substituir o ASMX pelo WCF em serviços que já estão rodando, e com vários clientes dependendo do mesmo.
Internals
As requisições para arquivos *.asmx são direcionadas pelo IIS para o ISAPI do ASP.NET (aspnet_isapi.dll). Em um determinado momento, o ISAPI direciona a requisição do pedido para o código gerenciado. As requisições para estes arquivos tem como alvo um dos handlers WebServiceHandlerFactory ou ScriptHandlerFactory. A primeira delas, se baseando no arquivo requisitado, construirá dinamicamente a classe que representa o serviço. Já a classe ScriptHandlerFactory construirá o handler baseando-se em uma requisição REST/AJAX.
O WCF também utiliza o pipeline do ASP.NET, e quando a requisição é entregue pelo IIS para o ASP.NET, ele verifica se trata-se de uma requisição para um arquivo *.svc. Caso positivo, o handler responsável pelo processamento do pedido é o HttpHandler (System.ServiceModel.Activation). Internamente o WCF faz o processamento síncrono da operação, não liberando a thread do ASP.NET, que ficará bloqueada até a finalização da operação. Para entender melhor esse problema e também como melhorá-lo, você pode recorrer a este artigo.
Deployment
Assim como qualquer aplicativo .NET, basta mover os serviços para o IIS remoto e tudo já funciona. Obviamente que você deverá se certificar que você tenha a mesma versão do .NET Framework (isso inclui o Service Packs) instalada no servidor. É importante dizer que ambas tecnologias necessitam de um diretório virtual devidamente criado no IIS, com as permissões também configuradas. Apenas atente-se ao WCF, que tem um pequeno bug quando você opta pela pré-compilação do projeto.
Cliente
Dentro do Visual Studio .NET você tem duas opções para referenciar um serviço: “Add Web Reference” e “Add Service Reference”. Podemos dizer que com a primeira opção, você deve utilizar quando for referenciar um serviço ASMX em uma aplicação; já com a segunda opção, você deve utilizar quando você for referenciar um serviço WCF em uma aplicação. Quando fizer isso, a IDE criará o proxy utilizando a API da tecnologia correspondente.
Isso não quer dizer que você precisa seguir sempre esta regra. Você pode referenciar um serviço ASMX na opção “Add Service Reference”. Ao fazer isso, toda a estrutura do lado do cliente, será criada utilizando a API do WCF, ou seja, o proxy será baseado na classe ClientBase<TChannel> ao invés da SoapHttpClientProtocol, e toda a configuração do endpoint do serviço será colocada no arquivo Web.config. O WCF criou um binding chamado BasicHttpBinding para a interoperabilidade com o ASMX, que você pode utilizar para interagir com o serviço criado através do ASMX, sem maiores problemas.
Conclusão: Como vimos neste artigo, há vários detalhes que precisamos nos atentar na construção ou migração de um serviço escrito em ASMX para WCF. Para efeito de compatibilidade, algumas funcionalidades continuam trabalhando da mesma forma, enquanto para outras há um jeito diferente de fazer, e que na maioria das vezes, acaba sendo mais flexível. O artigo também não aborda detalhadamente cada uma das funcionalidades do WCF. Se desejar construir um serviço utilizando WCF, ou se quiser entender mais detalhadamente cada uma das funcionalidades abordadas aqui, pode consultar este artigo, que no final dele, há uma relação com os principais artigos que falam sobre essas funcionalidades.