Desenvolvimento - ASP. NET
O novo motor da web
A web está com um motor 2.0 zerinho. Mas estão seus desenvolvedores prontos para tanta potência? Conheça dois exemplos diferentes de motorização.
por Paulino MichelazzoAdmiro Tim O"Reilly por vários motivos. Criou uma empresa muito bem conceituada[1], edita ótimos livros e desenvolve um bom trabalho na área de FLOSS. Mas admiro-o ainda mais estando lado a lado com os gênios do marketing tecnológico, Bill Gates e Steve Jobs, para os quais não deve absolutamente nada quando o assunto é criatividade. Dentre suas façanhas para galgar tal posto encontra-se a cunhagem do termo “Web 2.0”[2]. Um nome bonito, simples e ao mesmo tempo que nada diz, como a maioria das propagandas dos grandes gênios. A evidência que ele é tão bom quanto seus pares está na capacidade de arrebatar milhares de seguidores em todo o mundo para o “nada novo”.
Pode pensar o leitor que sou contra a web 2.0. De forma nenhuma. Acho-a bonita, interessante, excitante. Mas sim, sou contra a forma como os fanáticos seguidores desta “nova onda” tentam pegar o bonde andando querendo sentar na janelinha. Deixando a analogia de lado, me impressiona a busca incessante por informações sobre novas tecnologias da afamada web 2.0 quando o programador ao menos toma cuidado de manter antigos conceitos fundamentais paralelos ao novo aprendizado. Neste momento, o possante motor da web 2.0 se torna um xumbrega 0.2.
Um mau exemplo
Há alguns dias precisei fazer a aquisição de uma passagem aérea partindo de São Paulo para o Oriente Médio. Sendo uma “pessoa da web”, nada mais lógico que usá-la para tal tarefa. Usando um conceituado site multinacional de viagens que opera no Brasil, consegui a reserva somente após vários telefonemas para o site, gastanto tempo e dinheiro que não precisava. Os erros? Muitos. Uma mesma busca com as mesmas variáveis retornava resultados diferentes, datas incorretas, trechos errados e cancelamentos não solicitados. Tudo isso sinalizava para mim um mau código criado por um mau desenvolvedor que no deslumbre da web 2.0 maciçamente usada no site, esqueceu do básico que seria a verificação de queries executadas em uma base de dados, ou seja, acredita este que o novo motorzão de tão moderno, não precisa nem de óleo.
Figura 1 - Vôo de ida
Figura 2 - Vôo de volta
O leitor atento vai achar estranho como podem dois vôos entre as mesmas cidades possuirem uma diferença tão grande de tempo de viagem (10 horas). Poderia ser por alguma escala no meio do caminho, mau tempo ou então vento contrário, mas nenhum destes “poréns” era correto. De tão estranho, comecei a procurar na Internet se o avião usado pela companhia tinha autonomia para 20 horas seguidas sem reabastecimento e descobri que não existe um único aparelho hoje capaz disso (exceto em condições excepcionais para quebras de recordes). Assim sendo, a conclusão foi óbvia: soma-se ou subtrai-se o número de horas entre a partida e chegada sem levar em conta os fusos horários. Um erro tolo mas que custou-me vários dólares em tempo e ligações, além de alguns milhares de reais da empresa que precisa manter um (ou vários) funcionários ao lado do telefone para sanar problemas com clientes que não podem acreditar no horário de chegada de um vôo para marcar outro pois, a cada momento, uma nova informação é fornecida.
E o motorzão 2.0 da web? Virou um 0.2 no velho e bom telefone.
Um bom exemplo
Mas existem bons exemplos de como a web pode funcionar bem (e muito bem, obrigado) quando mesmo com um motor novo, não são esquecidas as lições aprendidas lá na auto-escola da Internet.
No mesmo período desta passagem, tive que solicitar um visto de entrada no Camboja, pequeno país da Indochina bem conhecido pelas suas paisagens florestais usadas em filmes do Rambo e da bela Lara Croft. Ao contrário do que o leitor preconceituosamente possa imaginar, este país que só conheceu a tranqüilidade civil em 1999 e que atualmente possui somente 44 mil endereços na Internet, mantém um dos melhores sistemas de e-visa do planeta[3], deixando para trás nações desenvolvidas de todos os continentes. De forma simples, fácil e objetiva, qualquer viajante (com as excessões de praxe) pode solicitar seu visto e de mais quatro pessoas eletronicamente, recebendo-os em qualquer lugar do mundo no prazo de três dias úteis. Erros e problemas no sistema? Simplesmente nenhum. Um pouco de web 2.0 bem dosada e uma sólida programação por trás do sistema fizeram com que mais de trinta e cinto mil turistas utilizassem a ferramenta desde seu lançamento que permitiu a redução de custos com papéis, funcionários, “burrocracia” e claro, a paciência daqueles que desejam conhecer este interessante país.
Se existe comparativo dentro da Internet, o trabalho do ministério de turismo cambojano é a verdadeira web 2.0: eficiente, simples, prática e, neste caso, turbinadíssima.
A lição de mecânica
Não importa se você está pilotando um site 1.0, 1.3, 1.8 ou 2.0 (e já está chegando a 3.0!). Existem pequenas lições que aprendidas uma vez em qualquer “motorização”, devem ser usadas sempre. O usuário da web antes de querer cores bonitas, janelinhas saltitantes, efeitos especiais “made in DreamWorks” deseja informação e mais que isso, informação correta. Não acredita no que digo? Pois veja dois campeões unânimes de ibope, Google e Wikipédia e encontre onde está a “web 2.0” multicolorida neles. Não é o show de efeitos que faz um site ser bem visitado, mas sim seu conteúdo bem estruturado e de fácil recuperação. A web 2.0 está errada não em sua conceituação, mas sim na mão daqueles que a programa e que acreditam ser o máximo uma “janelinha Ajax” aqui e ali. Bonita e bancana, ela perde toda a funcionalidade e finalidade quando o suporte dela é capenga e permite o retorno daquele motor 0.2 a lenha!
Você pode fazer muito pela saúde de seu motor 2.0 (e não ser um exemplo em um artigo como estes) se manter a manutenção básica do mesmo em dia com os seguintes pontos:
l Atenha-se primeiro a informação e depois em como ela será distribuída. De nada adianta as belas caixinhas Ajax o códigos DOM mirabolantes se a informação não é estruturada ou é simplesmente, uma nuvem de CO2. É preferível um site simples, básico, funcional e com informação relevante do que aquela mega produção entendiante. Conteúdo é o que conta (claro que se bem apresentado, melhor ainda);
l Tome cuidado redobrado com fidelidade da informação que está distribuindo. Um pequeno erro em um zero pode custar uma retífica completa ou ainda a “perda total” do seu motor (inclusive de seu emprego). Faça verificações dentro e fora do sistema com o intuito de encontrar erros na programação e sane-os o mais breve possível. A web 2.0 aceita o conceito de ajuda do usuário para encontrar falhas e erros mas não abuse. Usuários não são seus beta-testers (como algumas empresas adoram fazer) mas sim parceiros.
l Aproveite-se daquilo que seus usuários mais possuem: senso crítico. Quando um usuário navega de um lado para outro num site (facilmente verificável com um código de log atrás do sistema), alguma coisa errada está ocorrendo. Será que ele está encontrando a informação que precisa ou será que está pulando aqui e ali tentando achá-la? Se você possui formulários de contato para críticas e sugestões, use-o efetivamente. Críticas são sempre bem-vindas e muito úteis quando se deseja melhorar o que existe. Reponda as críticas tanto com a correção/adaptação quanto para o usuário que a fez;
Finalizando
A web 2.0 e a novíssima 3.0 podem e devem ser usadas pelos desenvolvedores. Mas como já cantado por Jorge Benjor, “prudência e canja de galinha não faz mal à ninguém”. Deixe de lado os efeitos pirotécnicos (a menos que esteja fazendo o site do concurso mundial de fogos de artifício) e atenha-se onde realmente é necessário usar tal conceito. Interações com o usuário são muito importantes mas ainda mais importante é a resposta dada. A frustração do usuário é muito maior quando a resposta obtida à sua necessidade é pífia do que aquela encontrada na dificuldade de obtenção da resposta.
Não esqueça que aquelas regrinhas básicas aprendidas nos gol"s, uno"s e até fusca"s são usadas até para dirigir uma Lamborghini. E na web a analogia é a mesma, o básico é básico mas nunca deve ser disperdiçado.